Ultimamente temos ouvido falar bastante de um programa chamado “Hackers do Bem” e de “polêmicas” envolvendo questões de instabilidade e erros crassos nas questões a serem resolvidas, onde a resposta considerada correta, na verdade estaria errada, o que poderia levar a um conteúdo ensinado com teor duvidoso, ficando fora da realidade.
O que é o “Hackers do Bem”?
É uma iniciativa entre a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), o Senai e a Softex, “com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com recursos da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991, criaram um curso gratuito em cibersegurança, do básico ao avançado, para quem quer começar a atuar nesse campo“, conforme citado no site.
Como o cenário de cibersegurança no país está em constante crescimento, foi criado este programa para formar profissionais que atuarão no segmento.
A polêmica do programa
Na verdade são pequenos problemas que fazem parte do todo, indo desde o site indisponível até conteúdo ensinado de forma incorreta.
Site instável
Casos de sites indisponíveis ou que sofrem instabilidades ocorrem a todo momento, certo? Certo!! Mas quando pensamos em uma plataforma, onde o foco são pessoas interessadas na área de cibersegurança (ou seja, muita gente!), normalmente os mantenedores da infraestrutura precisam pensar em diversas variáveis antes de disponibilizar o sistema pra um país. Ou seja, precisam DIMENSIONAR corretamente a infraestrutura.
Nos dias de hoje, com ferramentas que realizam teste de carga, não cola mais a desculpa de que não previram a quantidade de acessos que a plataforma teria.
Quando você vai fazer uma festa, no que você pensa? Normalmente:
- Quantas pessoas o local comporta
- O valor cobrado está aderente ao perfil do público desejado?
- Com base em uma estimativa, os comes e bebes serão suficientes para todos?
- Existem banheiros?
- A saída de emergência está acessível?
- A música que será tocada é do gosto da maioria?
É claro que existem outras questões a serem vistas. Agora imagine eu não pensar em quase nada disso e simplesmente esperar pra ver o que acontece no dia? Voltando ao problema em questão do post, o que você acha que ocorreu?
Foi até cogitado de que o site que ensinava sobre cibersegurança teria sido atacado. Mas esse ponto não foi confirmado…
O Caíque Alves, que possui um canal no Youtube, publicou um video falando da instabilidade, bem como do comunicado que recebeu do programa onde explicavam os motivos do ocorrido.
Outros casos envolvem o cancelamento de uma live que estava agendada para o dia 23/01, mas que teve que ser adiada, sem data definida. Neste post, o motivo do adiamento era de que “a RNP não dimensionou a sua rede de Internet para abrigar tanto aluno interessado”.
A cereja do bolo: O conteúdo ensinado
Obviamente que o conteúdo ensinado não está de todo errado. Que isso fique bem claro, MAS encontramos algumas pérolas que levantam suspeitas sobre a confiabilidade do que ensinam na plataforma. SE o objetivo é formar uma grande força-tarefa que “lutará” contra os ataques cibernéticos, fico pensando como será esse exército se os erros crassos não forem corrigidos à tempo.
No Linkedin, diversas pessoas postaram relatos dos erros encontrados (optei por não citar os nomes de algumas pessoas por uma questão de sigilo, mas caso você seja o(a) autor(a) de algum dos relatos e queira que divulgue seu nome, por favor entre em contato pelo comentários ou nos locais onde eu compartilhei o post). Vamos citar alguns.
Na questão abaixo é perguntado qual é a principal unidade de medida para a potência de processamento de computador. Conforme o Hackers do Bem, a resposta seria WATT. Onde está o erro?
E nesta segunda? Preste bem atenção:
Nesta outra imagem, o que achou da resposta considerada como correta pelo programa?
O curso não é revisado? O que acontece? Uma coisa é ter um erro de português, outra, e totalmente diferente, é ensinar conceitos BÁSICOS errados!
Como comentei em um post no Linkedin, da maneira que está, “quem levar a ferro e fogo esse curso terá uma bela surpresa quando for aplicar os conhecimentos no mundo real…”.
Isso é sério pessoal, não é brincadeira. Tem dinheiro público sendo gasto num projeto que ensina coisa muito básica, que não reflete a realidade, e ainda por cima, os responsáveis não dimensionaram corretamente a coisa toda.
Update:
Conforme consta em matéria postada no site do MCTI em 23 de maio de 2023 “Ao todo, R$ 32,6 milhões em recursos da Lei de TICs foram disponibilizados à iniciativa, que será coordenada pela Softex e executada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) juntamente com o Senai-SP. A meta é formar mais de 30 mil pessoas até 2025 em diferentes níveis: básico, avançado, especializado e residência tecnológica em laboratórios de cibersegurança espalhados pelo Brasil.“
Pensando nos problemas citados, esses R$ 32,6 milhões não foram suficientes para criar uma infraestrutura estável e segura, e nem ainda, para pagar pessoas que criem conteúdo que reflitam a realidade?
Objetivo do curso é duvidoso e a RNP pede voto de confiança
Num post publicado em 31 de janeiro de 2024, no site Capital Digital, sob o título de “Hacker do Bem: objetivo finalístico do curso é duvidoso; RNP pede voto de confiança“, o mesmo cita que “Técnicos da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) e do Senai explicaram a estratégia do governo na formação de profissionais da área de segurança da informação através do curso “Hackers do Bem” – programa que está custando em renúncia fiscal para o governo a bagatela de R$ 33 milhões. Inicialmente a live foi marcada pelo “blá blá blá” de abertura da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos, com direito a beijinho para uma plateia de pouco mais de sete mil pessoas.”
Continuando:
“Pelas informações que os diretores da RNP que participaram da live deram ao público, ficou a impressão que o curso irá produzir resultados duvidosos para o governo, mas poderá interessar ao mercado. Apenas 200 formandos considerados capacitados para chegar ao “topo da carreira” conseguirão ganhar uma “residência” nas instalações da RNP, com o pagamento de uma bolsa de R$ 3 mil.
Indaga-se: um profissional que tenha chegado na filtragem de um curso que conta com mais de 120 mil inscritos, irá se interessar em fazer residência por R$ 3 mil nas instalações da RNP? Em tese, ele já não seria um profissional formado, possivelmente já trabalhando na área, interessado apenas em obter um certificado da RNP/Softex/Senai?
A impressão que ficou é que o governo não planejou absorver mão de obra especializada; simplesmente está ajudando empresas com o não recolhimento de impostos a contratarem esses profissionais depois. Essa estratégia para um governo que precisa equilibrar as contas resultaria em algum benefício? A conferir.”
Assista a live:
Realmente não sei muito o que dizer. Eu e você como brasileiro(a) e que preza que pelo bom direcionamento de verbas, pelo uso consciente, provavelmente fica com a pulga atrás da orelha sobre essa coisa toda.
Aguardem cenas dos próximos capítulos!
Créditos da imagem usada na capa do post:
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